quarta-feira, 20 de agosto de 2014

a precariedade da sorte humana



POEMA DE ROSA KAPILA)

A PRECARIEDADE DA SORTE  HUMANA
“estranho livro aquele que escreveste,  artista
da saudade e do sofrer! Estranho livro  aquele
em  que puseste  tudo o que eu sinto, sem
poder dizer”  (Florbela Espanca)


Toda  a carne que tenho distribuída  testa
/abaixo, dói.
E, ainda dizem  que  forte sou.
Eu ando, eu corro, eu penso em aparar aquela luva
/perdida por um astronauta, no interplanetário.
Eu  invento “a lógica dos possíveis narrativos”  em  lixo
/espacial.
O que me salva são os poetas  de antigamente,
/que me fazem companhia.
Avalio  encantadores frutos  e mistérios de pessoas
/escondendo  seus sabores.
Penso nos grãos  de areia   que juntei  numa latinha
/de marrom glacê  para recompensas  dar-me
/em formas irreais.
Imagino treinar  feituras  de sonetos, saltos ornamentais
/em cachoeiras, fluxos de energia no  Himalaia.
Penso muito na precariedade da sorte humana.
Lembro-me de um cajueiro velho de Pindamonhagaba.
Gosto de relembrar-me da casa  do tio Bob de Pinda
/e nos moranguinhos  que colhíamos  pela estrada.

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