quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Tangerina de ouro

(POEMA DE ROSA KAPILA)
TANGERINA DE OURO
Tenho saudades de beijos de carne
Não ouvi Anne Sexton
Tampouco Shakespeare.
Beijos de boca para o vinagre.
Com muito silêncio penso na “Casa de Irene”.
Tu que és errante e tens a bicada do abutre no peito, chora.
Não sabia, porém boca faz falta.
Vejo da janela a colisão de urubus. Se bicam? Se beijam.
Lampejos.
Chupo uma tangerina cor de ouro e penso na varandinha
/ que nunca ganhou uma grade. Era ali que eu mordia tua boca.
Uma emenda: pego as Espumas Flutuantes de Castro Alves
/entretanto quem me tira acidez da vida é Camões – beijo
/ As Líricas.
Aqui faço mais uma emenda
Vultos me seguem na Rua da Alfândega. Olho os
/bustos para disfarçar.
Pergunto com pernas trêmulas: por que tantos vivos
/ se foram tão perto um do outro?
Não respondo.
Não posso responder.
Pulo da tangerina para a acerola.
Sento em um bar ainda da Alfândega.
Pão de queijo !!!!!!!!!!
Por que não me   lembrei  antes?
Acerola com pão de queijo
Pego um guardanapo, desenho besteiras  enquanto
/ segue a procissão de mortos.
Voltei  pela Ouvidor
Queria andar mais.
Estaria aberto o Campo de Santana?
Olho os gerânios, o sol, uns relógios, pérolas do colar
/ de uma senhora, as almas que tentam se esconder,
/a loja só de perfumes, cabelos, limões vendidos,
/beijos de namorados.
Ouço ao longe uma canção de Bob Dylan.
  

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Boca de vulcão

                                 BOCA DE VULCÃO

DENTRO DE TUA CABEÇA
FLUTUA ESSA LUA
DO "SER & O NADA"
DO SER QUE NÃO É TEU
DO NADA QUE APENAS EMENDAS
NO TUDO.
AQUELE ÓDIO LANÇAS PELO ARFAR DO PEITO.
ATÉ HOJE NÃO ENTENDES:
A BORRA DO CAFÉ
O DESAFIO ROMÃNTICO
A DETERMINAÇÃO DE UM OFÍCIO
A LIGEIREZA DOS  CAMUNDONGOS
OS PASSOS CANSADOS DE UMA VELHA
A DIGNIDADE  DAS ARTES.
O AFASTAMENTO ETERNO DE UM AMIGO PORQUE HÁ AMIZADES
QUE SÃO COMO REMÉDIOS, NA BULA TEM VALIDADE
E DATA MARCADA DE ACABAR.
A  CORTESIA DE UM TRAÍRA
O CHEIRO  DE UMA ROÇA
COMIDA COM GOSTO DE FOGUEIRA
UM COMPROMISSO RADICAL
A LÍNGUA DE UM NATIVO
A AUDIÇÃO DO POEMA
A IDÉIA DE RESPONSABILIDADE
A FALSIFICAÇÃO DO DINHEIRO
A DESCONFIANÇA DOS IDOSOS
COMO SE JOGA FORA UMAS LETRAS
A BELEZA DOS ÍNDIOS
O MOCHILEIRO QUE SE ADAPTA A QUALQUER OBSTÁCULO
A PALAVRA-PÁSSARA
QUE SÓ A RODA QUE RANGE RECEBE GRAXA
QUE OS ESCRITORES SE ENTREDEVORAM
POR QUE SERÁ?
ATÉ HOJE NÃO ENTENDES
O TEU CHINELO VIRADO.