UMA XÍCARA DE SANGUE
"Gosto de viver. Algumas vezes me sinto muito, desesperadamente, loucamente miserável, atormentada pela aflição, mas mesmo diante disso tudo eu compreendo que estar viva é uma coisa grandiosa."(Agatha Christie)
Para meu querido amigo escritor e teatrólogo Blanchot
Eu dei um grito de carência
mesmo assim vi um filme violento e saí andando por aí.
quero me abandonar dormindo nesta noite.
Vigio Agatha Christie enquanto ela mata as pessoas e os empilha
/em pedacinhos.
Depois do ritual da morte eu e a dama do crime bebemos várias
xícaras de sangue com biscoitos.
Ríamos.
Ela dizia: "tragam mais duas duplas de xícaras! - tim tim! O sangue move
/o mundo! Um brinde a tudo aquilo que é vermelho!
Scotch!
Scotch é meu cachorro. - venha tomar sangue conosco!"
As luzes da casa de Agatha brilham demais.
- Os venenos são escondidos aonde? - Pergunto.
Ela solta uma gargalhada.
- Só sei querida que todo dia a gente precisa morrer um pouco. Olha
/que avião bonito vai passando...
O avião me acordou.
Sou uma rosa de pobre coração cansado.
Quero ser bem sucedida dentro de mim mesma,
/na escuridão uivante.
Sempre tive olho de águia para qualquer coisa que
/estivesse fora do lugar. O ruge de Agatha Christie descia
/como um riacho em seu rosto empoado.
Fazia muito calor.
Enfim, eu e a dama do crime tínhamos um relacionamento
/profissionalizado.
Viva o vermelho assassino!
Ainda tive tempo de fazer a seguinte pergunta:
- Agatha, como você passa seus dias nas horas de lazer?
- "Matando gente!"
A rainha sabia como se divertir.
Estou quase num beco sem saída porque
/abandonei uns vícios.
Estou no osso com aquele amor.
E se eu o visse hoje lhes daria uns tapas.
Quando você não aguentar mais e me telefonar
/vou acender um cigarro e ler um anúncio de utilidade
/pública com minha letra baixinha.
Me procure que eu te mando desamarrar um cachorro
/num carro estacionado.
Para mim, sua chuva não serve pra nada. (POEMA DE ROSA KAPILA)